Logo após a fundação do Ryukyu Koku Matsuri Daiko, foi decidida a participação no Sakura Festival de Nago. Na avenida principal de Nago, aproximadamente 70 membros, apenas homens, fizeram soar o taiko de eisā. O som dos nossos tambores fez as vitrines das lojas vibrarem, fazendo a plateia pular de susto. No meio daquele público se encontrava o futuro primeiro líder da filial de Nago, Naoya Kishimoto, e o futuro quarto administrador geral do grupo, Tadatoshi Teruya. Após ver a apresentação, eles entraram em contato comigo dizendo que queriam muito abrir a filial Nago do Matsuri Daiko. Então, eu comuniquei aos membros que iríamos ter uma filial em Nago e perguntei quem entre eles poderia ir até lá para ensiná-los. O que recebi em resposta foi: “se eles disseram que queriam aprender, não seriam eles que deveriam vir?” Eu respondi rindo: “vocês têm toda a razão, mas eu penso assim, se quisermos ser o número um de Okinawa, seria isso mesmo. Mas se queremos ser o número um do mundo, devemos ter o espírito de liderança e ir até lá para orientá-los. Eu apenas comecei o Matsuri Daiko, quem vai decidir se chegaremos a número um de Okinawa ou número um do mundo são vocês.” Então, os membros se entreolharam e responderam: “nossa meta realmente é ser o grupo número um de entretenimento popular do mundo!”, e decidiram ir para Nago.

Um pouco depois do início do processo de orientação, Naoya Kishimoto entrou em contato comigo dizendo: “as mulheres do seinenkai pediram para entrar no Matsuri Daiko.” Eu pensava que nenhuma mulher se interessaria em entrar em um grupo formado por homens de sobrancelhas franzidas e olhos mal encarados. Não sei se foi por causa da insistência de Kishimoto ou se me deixei levar pelas meninas que fizeram o pedido, não me lembro agora, mas sei que permiti a participação; porém, com a condição de que elas se tornariam membros oficiais do grupo somente após a análise dos líderes gerais em relação ao desempenho da coreografia.

Chegou o dia em que a liderança geral do Matsuri Daiko viria avaliar a coreografia das meninas. Vendo as meninas, com Masami Nakaima na posição central batendo no taiko com tanto vigor quanto os homens, Tomohiko Chibana, então vice-líder de orientação geral do grupo, disse apenas: “são melhores que os homens, eu sou a favor de permitir a entrada de membros mulheres.” Foi o momento do surgimento das primeiras mulheres no Matsuri Daiko.

Atualmente, 70% do membros do Matsuri Daiko são mulheres. O eisā tradicional consiste em homens tocando ōdaiko como carro chefe e mulheres dançando te odori (dança com as mãos) como um atrativo. Isso é maravilhoso. Mas o fato de mulheres dançarem segurando um ōdaiko tem o seu valor perante o avanço do tempo. Aliás, o eisā hoje em dia passou a ser praticado tanto por adultos quanto por crianças. Como tradição, temos que manter o eisā tocado na época do obon, isso é algo muito claro para mim. Mas,  poder carregar a tradição como herança e ainda poder proporcionar novas emoções das novas gerações é algo igualmente importante. Eisā tradicional, eisā moderno, adulto, criança, sem separar desse jeito. O mais importante é se há emoção ali ou não. Eu acredito que isso seja o verdadeiro motivo da existência do entretenimento popular.



Coluna Takeo Medoruma
Texto original publicado em 23/03/2012
Fonte: http://column.ryukyukokumatsuridaiko.com/