Nesta página, expomos uma breve biografia de nosso querido Sensei, Naohide Urasaki (in memorian), responsável pela fundação da filial do grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko Brasil.
O sensei Naohide Urasaki nasceu na cidade de Naha, capital da província de Okinawa, em 20 de março de 1930. Desde cedo demonstrou interesse pela história e cultura de sua terra natal e, com o término da Segunda Guerra Mundial, começou a aprender o Okinawa Shibai, como é chamado o teatro criado e produzido em Okinawa. Apesar das dificuldades da época, conseguiu conciliar o trabalho com a arte.
Além da ilha principal de Okinawa, também morou nas pequenas Kume-Jima e Ōshima, antes de se mudar para Taiwan, onde foi morar com parte de sua família. Quando completou 15 anos de idade, retornou à sua terra natal, onde desempenhou diversas atividades econômicas para se sustentar. Mesmo assim, entre os 17 e os 21 anos de idade permaneceu ativo no mundo artístico de Okinawa. Nessa fase, além de aperfeiçoar sua vinha teatral, aprendeu outras artes que pertencem ao universo da arte tradicional de Okinawa, como odori (dança), sanshin (instrumento de três cordas) e taiko (tambor).
Aos 21 anos, surgiu a oportunidade de migrar para a Tailândia, onde trabalhou em navio pesqueiro. No ano seguinte retornou à Okinawa, onde permaneceu até os 27 anos de idade. Nesse período seu talento encontrou grande espaço no cenário artístico de Okinawa. Fez apresentações artísticas por toda a ilha atuando na companhia de teatro Tsuru e no clube Raikamu. Apesar dos parcos recursos, seu amor pelo teatro fez com que se dedicasse à exaustão nessa atividade artística. Porém, a dificuldade financeira obrigou sua família a procurar novos caminhos.
Em 1957, motivado pelas propagandas de incentivo à emigração do governo japonês, foi para a Bolívia, onde trabalhou em plantações de arroz. O sonho de melhorar de vida com a mudança de país não foi um impedimento para que permanecesse encenando peças de Okinawa Shibai. Ao chegar à Bolívia, sua participação ativa no cenário artístico okinawano fez com que ganhasse reconhecimento dentro da comunidade.
Convidado pelo Sr. Kanashiro, um amigo que emigrara da Bolívia para o Brasil, Urasaki mudou-se novamente, desta vez de forma definitiva, para nosso país. Aqui, introduziu o teatro okinawano. A Associação Okinawa de Vila Carrão havia sido fundada cinco anos antes e seus diretores procuravam incentivar as atividades artísticas da associação. Em 1961, chegou em São Paulo e sua primeira função aqui no Brasil foi trabalhar no ramo de confecção de roupas. Apesar do forte ritmo de trabalho, conseguiu se apresentar em cidades do interior e do litoral de São Paulo, como Itariri, Marília, Tupã e Santos.
Sua desenvoltura e habilidade em lidar com as pessoas fizeram com que fosse convidado a trabalhar como vendedor no Mercado Municipal da Cantareira, em 1962, onde permaneceu trabalhando por mais de trinta anos. Nessa época, estreitou os laços com diversos membros da comunidade okinawana no Brasil.
Em 1962, junto com outras personalidades da colônia okinawana como Teijun Tengan, Masao Miyazato, Shomatsu Nagado, Kazutoshi Matsuda e Taro Yonaha, fundou em São Paulo a companhia de teatro Kyōwa Gekidan, com a qual produziu e encenou peças de Okinawa Shibai. Esse primeiro grupo produziu e encenou em média duas peças por ano, durante os cinco primeiros anos de existência.
Cada uma dessas apresentações reunia um grande número de espectadores, todos de origem okinawana, que se emocionavam ao relembrar a terra natal por meio das peças de teatro do Kyōwa Gekidan. A comédia de costumes, que era o tema central dessas peças, era, muitas vezes, a única maneira para reviver as recordações da tão distante terra de origem desses imigrantes.
Em 1975, a companhia foi extinta e em seu lugar foi criado o primeiro grupo de estudos sobre peças de Okinawa Shibai no Brasil, chamado Okinawa Engeki Hozon Kenkyūkai. Além de participar como ator, Urasaki também realizava o acompanhamento musical das peças tocando taiko.
Em 1984, durante viagem a Okinawa, especializou-se em odori com a dançarina Takako Satō, diplomando-se no estilo Hananokai, com o objetivo de complementar sua formação e aperfeiçoar o grupo de estudos de teatro okinawano. Urasaki foi o responsável por implementar esse estilo de dança okinawana no Brasil e durante muito tempo foi o presidente da Associação de Dança Ryukyu do Brasil.
Em 1987, voltou a Okinawa para especializar-se em taiko, desta vez recebendo diplomação no estilo Mitsufumi Taiko. Nesta viagem, além de praticar esse estilo de taiko, teve contato com o novo estilo de eisā, o sōsaku eisā, do qual já se destacava o grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko. Somente quando o Okinawa Engeki Hozon Kenkyūkai foi extinto, em 1988, que foram abertas turmas da escola de taiko do sensei Urasaki. A primeira turma de taiko contava com aproximadamente quinze alunos, sendo que todos praticavam também o odori.
Em 1992, foi formada a primeira turma de sōsaku eisā, e ao grupo que ficaria conhecido como Oroku Band foram ensinadas as primeiras coreografias do Ryukyu Koku Matsuri Daiko, que viria a ser oficializado perante a matriz em Okinawa em 1998, com a presença do sensei Akira Yonamine.
Texto por: Carlos Glaujor